Pedi
a um querido e próximo amigo que nos falasse da sua experiência na montanha.
Vem
em forma de carta com toda a informação pedida, pertinente e específica.
Deixo-vos
aqui um pouco do delicioso relato de viagem do Nuno Moreira, meu amigo querido e pessoa de índole solida e a quem o companheirismo não é só uma palavra do dicionário, para que se percam
nestas paisagens deslumbrantes, que parecem saídas de um sonho maravilhoso mas
que existe aqui tão perto. Boa leitura.
Minha
querida amiga Celine
Respondendo a tua solicitação, em relação as
minhas viagens na montanha gostaria de salientar a última não só porque está
mais presente na minha memória mas também porque foi bastante impactante na
minha vida.
O destino escolhido foram as montanhas Dolomitas.
Foi
escolhida por um grupo de 3 amigos, mas quanto a mim um local com muito significado
não só porque é Itália, como sabes que adoro e porque também tem um sabor
especial porque abrange a zona onde vivi e passei dos momentos mais importantes
na minha vida. (friule venezia Giulia - Udine). Tenho que confessar que o
que mais curiosidade me despertava eram os trilhos arrojados, o desafio e a
extraordinária beleza das incríveis paisagens que expectava ver.
Penso
que um pouco de história para enquadramento será importante.
As Dolomitas (em italiano:
Dolomiti; ladino: Dolomites;
formam uma cadeia
montanhosa dos Alpes orientais
no norte da Itália.
A área dolomítica (secção
alpina denominada Alpes
Dolomíticos) estende-se entre as províncias de Belluno -
que constitui sua parte mais relevante - Bolzano, Trento, Údine e Pordenone.
O "Dolomitas" provém do famoso mineralogista francês Déodat
Gratet de Dolomieu, que foi o primeiro a descrever a rocha dolomita,
um tipo de rocha
carbonatada responsável pelas formas características e pela cor destas
montanhas, que anteriormente ao século XIX eram conhecidas como "Montanhas
Pálidas".
Será
sempre difícil iniciar, continuar e finalizar a descrição deste percurso foi
uma experiência única e inigualável.
Começando pelo início e descrevendo a preparação desta
experiência, a viagem começou com a escolha dos trilhos e respectivas marcações
nos refúgios só assim se consegue abrigo para dormir, de outra forma poderás
chegar e não ter espaço nos refúgios porque alguns são pequenos. A aquisição do
cartão europeu de seguro de doença (pedido feito através do site da Segurança Social Direta) e consulta do viajante é sempre fundamental e
primordial pelo aconselhamento importante do enfermeiro e médico que nos
despertam e preparam para possíveis situações de saúde e risco e de como os
poderemos ultrapassar.
Quanto
a preparação física não foi feita nenhuma em especial (apenas mantinha as aulas
no ginásio), nem aclimatização (embora as variações de temperatura fossem
consideráveis da noite para o dia, não foram atingidas temperaturas que o
justificassem) e nem adaptação a altitude (também não foi necessário, a
altitude mais elevada atingida forma os 2575 m, sendo importante referir que
anteriormente já frequentei zonas com mais altitude pela minha pratica de ski -
sendo que adaptação deverá ser feita a partir dos 3500 - 4000m).
Relativamente ao material de proteção e roupa adequado sim temos
de ter muita atenção na sua escolha, não só por ser o material mais adequado
como o estritamente necessário uma vez que a nossa mochila vai acompanhar
nos durante todo o percurso, teremos de ser auto sustentáveis de alguma
forma.
Toda
a viagem com mais ou menos percalços correu como seria expectável.
Todos os percursos efectuados estavam de certa forma bem
assinalados o que permitiu que a viagem fosse efectuada apenas com mapa físico, tendo apenas ocorrido apenas um desvio da nossa rota (perdidos
literalmente no meio da montanha, esta situação um pouco mais difícil pois não
tínhamos rede no telemóvel e estávamos sozinhos sem apoio de qualquer meio, o que nos
fez perder quase meio dia tendo a felicidade e a sorte de termos encontrado
ajuda numa dupla mãe e filha americanas que por ali passavam de bicicleta e que
nos emprestaram mapas mais pormenorizados.
Relativamente
aos albergues as condições materiais não são as melhores mas não esquecer
que estamos numa zona de montanha remota e não se pode esperar nada para além
do que um abrigo local tem para oferecer, no entanto todo o carinho de quem nos
acolhe consegue colmatar muitas noites enrolados em sacos cama em cima de
estrados de madeira rústica e banhos frios de alguidar.
Todos os albergues têm o seu encanto e características pessoais
pelo que é difícil escolher um.
No entanto o mais marcante pelo percurso e dificuldade em
alcançar, pela altitude e beleza de entre todos foi o Rifugio Nuvolau - Belluno
Dolomiti Veneto Italia - mt.2575
No
que diz respeito às refeições são muito semelhantes nos diversos refúgios não
só por ser a mesma região como por ser zona montanhosa sendo que as refeições
são calóricas para que consigamos percorrer tamanhas distâncias, as
vicissitudes do clima ou quaisquer imponderáveis que possam surgir em local tao
inóspito e distante.
Refiro também o Rifugio Ücia Lavarella - Schutzhütte- Munt de
Fanes mt.2050,
não só por pelo jantar (canederli gulasch, polenta e formaggio alla
piastra) mas também a destacar o inovador espaço de apoio aos caminhantes não
só de relaxamento como de tratamento das roupas e calçado.
Saliento que devemos ir equipados de forma a não sermos
surpreendidos por algum percalço da natureza ou descuido no percurso, na mochila
tipo 20 litros não deverá faltar roupa adequada à época tendo presente algum
agasalho mais quente, botas e meias, os bastões de montanha, óculos de sol,
cantil e pastilhas para purificação água, barras proteicas e frutos secos,
lençol cama, mapas locais, medicamentos e por precaução um
powerbank para o telemóvel.
Para
finalizar refiro que há muito esperava realizar esta experiência inolvidável
onde se comunga com os nossos companheiros de viagem uma paz interior brutal
que nos eleva a mesma altura dos píncaros que rasgam os céus.
A frescura dos regatos e dos vales verdejantes o maciço
inóspito e a visão daquelas montanhas cuja força esmagadora nos faz perceber
que somos apenas meros espectadores de tamanha grandiosidade, o sorriso e
solicitude de quantos como nós percebemos também partilharem da mesma vontade e
desejo de envolvidos no meio da natureza, verdadeiramente nos encontrarmos.
Um
beijo e até a nossa tão desejada viagem.
Nuno Moreira
Todas as
fotos são da autoria de Nuno Moreira. Espero que esta partilha de momentos,
vivências e imagens reais e cheias de beleza, seja para vocês o que foi para
mim, uma inspiração.
Vai viajar?
Leve viagem!
Celine
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